quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"Um Soneto" Guilherme de Almeida

Ama, quieto e em silêncio. É tão medroso o amor, que um gesto o esfria e a voz gela.

Perguntei à minha vida:
- Como achar a apetecida felicidade absoluta?
E um eco me disse:  -“Luta!”

Lutei. – Como hei de a  esta pena dar a cadência serena que suaviza, embala e encanta?
O eco, então, me disse:  -“Canta! “

Cantei. –Mas, como, num verso, resumir todo o universo que em mim vibra, esplende e clama?
Então o eco me disse:  -“Ama!”

Amei. –Como achar agora a alma simples que eu pus fora pelo prazer de buscá-la?
O eco, então, me disse:  -“Cala”

Calei-me.E ele, então, calou-se.
Nunca a vida foi tão doce...
Tudo é mais lindo ao meu lado:
Mais lindo, porque calado.



(Cartas entre amigos – Gabriel Chalita e Fábio de Melo)